Por: Jéssica Naur
Vocês já devem ter ouvido aquele ditado que em time que se está ganhando não se mexe, certo? E o que isso tem a ver com o show do New Order? Tudo, mas já vamos chegar lá.
Por volta das 21 horas de quarta-feira, 28 de dezembro, às ruas em volta do Espaço das Américas já estavam tomadas pelo fãs que se encaminharam para a casa de shows para assistir a apresentação que a banda inglesa New Order faria dali alguns minutos.
Sem dúvida alguma a faixa etária dominante ali era o pessoal entre os 40 e 50 anos, que ouviam New Order na sua adolescência, mas os jovens também estavam dando as caras para ver a banda oitentista.
Mas antes dos convidados de honra da noite, quem adentrava a casa de shows já se encontrava um pouco no clima da banda inglesa, que mistura o rock e música eletrônica.
Isso porque o show de abertura ficou a cargo de três nomes em ascensão da música eletrônica brasileira: Rocksted, Barja e Fractall. O trio estava esquentando a pista para o que viria a seguir.
Apesar do três artistas terem chegado ao seu propósito, que era animar a galera até a apresentação principal, uma banda com estilo musical diferente teria sido uma boa opção.
Afinal, o próprio New Order já usa e abusa dos elementos eletrônicos, e colocar artistas com o mesmo segmento talvez tenha sido um pouco exacerbado. Tinha quem arriscava alguns passinhos durante a apresentação, mas perto do final o semblante do público era: Ok, legal. Agora vocês já podem ir.
Uma banda com um estilo diferente teria se encaixar melhor justamente para fazer esse contraste de estilos e não ficar uma coisa num estilo só.
Após terminarem oficialmente a apresentação, Rocksted e Fractall permaneceram no palco discotecando enquanto os técnicos finalizam os últimos detalhes para a entrada do New Order. Às 22h em ponto, a introdução da banda, uma música do Richard Wagner e um vídeo com homens de maiô começou a rolar no telão.
Poucos minutos depois, Bernard Sumner, Stephen Morris, Phil Cunningham, Gillian Gilbert e Tom Chapman subiram ao palcos em meio aos gritos do público que se encontrava no Espaço das Américas.
O grupo começou a apresentação com ‘’Singularity’’ e ‘’Age of Consent’’. Mas apesar das músicas dançantes serem uma das maiores características do grupo, não foi bem isso o que aconteceu durante o show.
Lembra do ditado lá no começo do texto? Bom, é isso que você pode esperar dos shows do grupo inglês. Apesar da apresentação bem morna, o grupo lotou uma casa para quase 9 mil pessoas, que estavam curtindo a apresentação, apesar desta ter sido bem pouco animada.
O grupo parece não ter o mínimo interesse de apresentar coisas novas ao público, ainda mais por perceberem que a fórmula de show que eles montaram funciona muito bem a ponto de encher um casa em plena quarta-feira.
Então, se você pretende ir ao show do grupo já esteja ciente que novidades não vai ser um ponto alto da noite.
Talvez, para compensar esse início meio morno, a banda executou um cover de Joy Division, ‘’Decades’’. Foi só neste momento que percebi que Bernard estava com uma camiseta da sua ex-banda.
A galera recebeu bem o cover. Enquanto cantava, imagens de Ian Curtis – vocalista do Joy Division, que se matou em 18 de maio de 1980 – no palco.
Mas foi mesmo com os grandes clássicos que os fãs de New Order foram a loucura: ‘’Bizarre Love Triangle’’ e ‘’Blue Monday’’.
Ambos fazem parte da grande lista de canções de sucesso que o grupo carrega ao longo dos quase 40 anos de carreira, entre idas e vindas.
No quesito animação e interação o grupo também não se exalta muito. Bernard arriscou alguns passos durante algumas canções, mas foi só isso. E a maior interação com o público foi do vocalista reclamando do trânsito de São Paulo: ‘’Eu amo São Paulo, mas o trânsito daqui é horrível’’.
Apesar disso, o vocalista sempre agradecia a recepção calorosa do público. Se a falta de novidade no setlist já era um incomoda, pior ainda era a tecladista Gillian Gilbert que não expressava qualquer reação durante todo show. A expressão facial dela era mais para quem estava no enterro do que em um show.
O único momento que pudermos ver um projeto de sorriso foi quando Bernand se juntou a ela nos teclados. Fora isso, a tecladista permanecia com uma expressão de que algo a incomodava durante todo o show.
Para finalizar a apresentação, o grupo apostou num trio de covers do Joy Division: ‘’Disorder’’, ‘’Atmosphere’’ e ‘’Love Will Tear Us Apart’’. O que era pra ter sido um belo momento, apenas mostrou a falta que faz Peter Hook no grupo.
No quesito cover do Joy Division, o antigo membro do New order e Joy Division se esforça muito mais. Já no caso do New Order, era melhor eles terem escolhidos outras músicas do próprio grupo, como ‘’Crystal’’, que com certeza fez falta no setlist.
Com uma apresentação cheia de bsides e voltada realmente para os fãs do grupo, o New Order confirma de que eles acharam uma fórmula de apresentação que agradam os fãs e que eles não pretendem sair disso. O que é uma boa notícia para os fãs e para quem já está acostumada com as apresentações compenetrados do grupo.
Por outro lado, quem vai esperando ouvir coisas diferentes, vai se decepcionar. Mas, no final das contas, o grupo está apenas dando ao que o público o que eles querem, mesmo que isso signifique apresentações iguais e sem espaço para mudanças.
Setlist
Das Rheingold: Vorspiel
(Richard Wagner song)
Singularity
Age Of Consent
Ultraviolence
Academic
Your Silent Face
Decades
(Joy Division cover)
Superheated
Tutti Frutti
Subculture
Bizarre Love Triangle
Vanishing Point
Waiting for the Sirens’ Call
Plastic
The Perfect Kiss
True Faith
Blue Monday
Temptation
Encore:
Disorder
(Joy Division cover)
Atmosphere
(Joy Division cover)
Love Will Tear Us Apart
(Joy Division cover)
Foto: Reprodução/Internet