Por: Diego Sousa
“Não importa o que você é ou o que quer, mas sim como você se vende”
Nova York, Madison Avenue, centro da cidade. Este é o endereço da Sterling Cooper, icônica agência de publicidade onde se desenrola a trama de Mad Men.
Do mesmo produtor e roteirista de “Família Soprano”, Mad Men tem como foco as agências de publicidade dos anos 60 e sobre como elas vendem o sonho americano, enquanto exploram a verdadeira natureza humana sob o disfarce dos valores familiares tradicionais.
A trama gira em torno de Don Draper (Jon Hamm), diretor de criação da Sterling Cooper. Draper é considerado um gênio da publicidade, fazendo-o ser cobiçado entre empresas concorrentes por estar sempre passo à frente das constantes mudanças. No escritório, Don também lida com a cobiça de seus colegas de trabalho, como Pete Campbell, vivido por Vincent Kartheiser; ao mesmo tempo em que incentiva a novata Peggy Olson (Elisabeth Moss) que luta a todo custo em busca de ascensão profissional.

Também compõe o elenco January Jones, como Betty Draper, esposa de Don; Christina Hendricks interpreta Joan Holloway, secretária geral na Sterling Cooper; John Slattery faz o papel de Roger Sterling, um dos sócios da Sterling Cooper e amigo de Don; Rich Sommer como Harry Crane, Aaron Staton como Ken Kosgrove, Robert Morse no papel de Sócio fundador da Sterling Cooper; Kiernan Shipka interpreta Sally, filha de DOn, Jay Ferguson vive Stan Riso, diretor de arte na Sterling Cooper, e Christopher Stanley como Henry Francis.
Contexto histórico
Mad Men é um dos seriados de TV mais bem sucedidos, ao lado de Breaking Bad, e largamente elogiado pela crítica até hoje. Especialmente pela autenticidade, o seriado diagrama com precisão o período de grande movimentação política e social que a sociedade vivia na época.
Num período em que eram acirradas as competições entre homens e mulheres em fazer da publicidade a arte da persuasão, falar sobre calmantes, anticoncepcionais, proibição do tabaco políticas contra o assédio parecia uma série de tabus.

Com isto, Mattew Weiner, criador da série, se preocupou muito em mostrar que a ambientação iria bem mais além do dia a dia da Sterling Cooper Agency nos anos 60. A série também se caracteriza sobre como era vida em casa naquela época, e sobre como as pessoas lidavam com problemas sociais e racistas.
Agora vamos ao que interessa!
Trilha sonora
Nos anos 60 tivemos a invasão da música britânica e da psicodelia nos EUA. “Theme from A Summer Place” de Percy Faith’s, por exemplo, era a canção Nº1da Billboard de 1960 e “Stranger on the Shore” foi para o top de 1962. Ambas apareceram em Mad Men.
De acordo com o crítico Hanna Rosin, após assistir a série declarou que “Weiner tem um gênio para fazer cenas que são teatrais e educativas ao mesmo tempo”.
Para muitos, as músicas de Mad Men são o palco do show, tomando todas as atenções na ausência de diálogo.
Os fãs devem ter notado a atenção sobre como Weiner foi minucioso com a trilha sonora de cada episódio como as canções são usadas para ilustrar a vida dos personagens.
E (quase) com a mesma atenção fizemos uma lista de músicas e seus momentos de importância desde a primeira temporada, em 2007:
1ª Temporada: março – novembro 1960
Conforme a primeira temporada de Mad Men vai se desenrolando, você consegue sentir o o fim da década de 1950. Havia indícios do que estava por vir com beatniks e outros movimentos contracultura. No geral, estes foram os vapores de América na metade do século XX, preparando o palco para os tempos de mudança.
Brian Hyland – “Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini”
Hino do verão de 1960, esta canção retrata uma época em que as mulheres começavam se expor mais, e, malandramente, Don Draper já havia notado.
Chubby Checker – ‘The Twist’
Alguns dos hits mais dançantes dos anos 60 hit foram utilizados na primeira temporada; em especial numa cena quando os funcionários da Sterling Cooper saíram para um happy hour. Depois de dançarem com “Choo Choo Cha Cha” de Rinky Dinks, Joan, Peggy e os outros seguiram ao som de “The Twist” de Chubby Ckecker. A esta altura Peggy ainda ocupava o cargo de secretária e vivia um caso com Pete Campbell.
Ferrante & Teicher – Theme From The Apartment
O primeiro grande sucesso para este piano duo foi o tema de um filme de Jack Lemmon sobre um apartamento usado por empresários para ter casos. Caiu como uma luva para Don.
Bob Dylan – “Don’t Think Twice, It’s Alright’:
Don chega em casa e percebe que está vazia porque Betty e seus filhos saíram para comemorar o de Ação de Graças. Neste momento ele ser senta na escada, enquanto a música de Dylan entra em cena ilustrando o momento em que Draper começa perceber sua vida se deteriorar.
Tom Jobim (Astrud Gilberto) – “Água de Beber”
Outro momento sublie da série que dispensa comentários ocorre no décimo primeiro episódio da primeira temporada, quando mostra Betty Draper mergulhada em um de seus devaneios ao som de “Água de Beber”, canção de Tom Jobim interpretada por Astrud Gilberto. Esta passagem é considerada, por muitos fãs, como um das melhores em toda série.
02ª Temporada: fev-out 1962
Roy Orbison – ‘Shahdaroba’
A infidelidade de Don e a ascensão de Peggy de secretária para copywriter começava revelar uma mudança de valores, bem como nos papéis de gênero. Assim, os sinais de uma nova cultura cada vez mais jovem que se desenvolvia. Os episódios finais desta temporada culminaram com a época da crise dos mísseis cubanos.
Sam Cooke – Twistin the Night Away
Um das músicas que ganharam destaque na segunda temporada de Mad Men foi “Twistin the Night Away”, de Sam Cooke. A letra fala sobre caras mais velhos dançando com mulheres mais jovens. Finalmente uma dança para pessoas que não sabem dançar!
Peter, Paul & Mary – If I Had a Hammer
A canção faz parte do debut álbum e ficou marcado por atingir o top 10 hits da Billboard por 10 meses, das quais ficaram por 7 semanas na primeira colocação.
Acker Bilk – ‘Stranger on the Shore”
A canção que apareceu nos créditos finais da segunda temporada foi a instrumental “Stranger on the Shore” de Bernard Stanley. Ela se tornou o primeiro single de um cantor inglês a chegar à posição N° 01 no top 100 da Billboard em 1961.
Neste episódio, Don lê o poema de Frank O’Hara “Meditations in an Emergency”, Betty recebe a notícia de que está grávida, mas antes de se reconciliar com Don e dizendo-lhe sobre isso, ela se envolve em um breve encontro sexual com um desconhecido. Pete finalmente diz a Peggy que a ama, e em resposta, Peggy informa que teve um filho dele o jogou fora.
3ª Temporada: março – dezembro 1963
Esta temporada narra a agonia e os “fins” para alguns personagens. O casamento de Don termina. O presidente Kennedy morre, os Beatles estão prestes a pousar em Nova York e um clima pós-guerra que está prestes a se quebrar, levando-os a se questionarem: “Quem sou eu?” e “Quem eu quero ser?”. Esta temporada representar o ponto de convergência da linha cultural do mundo dos anos 50 para o mundo dos anos 60.
Andy Williams – “Days of Wine and Roses”
A versão de Andy deste tema para um filme de Jack Lemmon (novamente) foi tão popular como a própria época. O filme abordava tudo sobre o excesso e depravação que um casamento pode segurar.
Jack Jones – “Wives and Lovers”
Essa é considerada uma das músicas mais misóginas de todos os tempos!. No seriado ela tem um tom de presságio: “Day after day, there are girls in the office … and men will always be men…”
4ª Temporada – novembro 1964 – outubro 1965
A 4ª temporada começa com a inauguração de uma nova agência de publicidade, a Sterling Cooper Draper Price. Mas nem tudo segue como planejado quando estamos falando de Don Draper, que neste momento sofre para se encontrar e superar mais uma crise de identidade. Confusões a parte, ele decide casar-se com Megan.
Dobie Gray – “The “In” Crowd”
Por outro lado, Peggy continua progredindo em sua carreira, colocando-a a frente de tudo, até mesmo de sua vida pessoal ao liderar uma grande campanha e mostrar o aumento da força feminina no trabalho.
Simon & Garfunkel – “Bleecker Street”
No final do episódio “The Suitcase”, Simon & Garfunkel canta uma de suas canções para uma Nova Iorque desconhecida.
Também existe espaço para outra grande canção que marcou esta temporada. Estamos falando de “I Got You Babe” de Sonny & Cher.
5ª Temporada: 30 de maio de 1966 – Primavera 1967
Don coloca seu foco no novo casamento e no trabalho, causando ressentimento em Peggy e nos outros empregados. Um novo personagem surge na trama e desafia Peggy a olhar em volta de si mesma e sob o teto de vidro que está em sua cabeça. Roger começa experimentar LSD e, em curto prazo, começa sentir o impacto da droga em sua vida.
The Beatles – “Strawberry Fields Forever”
Jessica Paré – “Zou Bisou Bisou”
Ao invés de tocar cantiga francesa sexy em sua versão original por Gillian Hills, o criador Matthew Weiner incorporou “Zou Bisou Bisou” para abertura da temporada com Megan Draper (Paré) cantando para Don em sua festa de aniversario surpresa. Vestida de preto skintight, ela diz a banda, “Un, deux, trois, quatre”, deixando atordoados todos os convidados da festa com sua performance sedutora.
Quando termina a música, Megan se senta no colo de Don e Roger Sterling se vira para sua esposa e diz: “Por que você não canta assim pra mim?”.
Nancy Sinatra – “You Only Live Twice”
Megan começou sua carreira de atriz e, como Don senta-se em um bar ao som do ronronar sedutor de Sinatra. A tentação de outra existência oferece-se novamente quando uma mulher pergunta se ele está sozinho. A temporada termina antes que ele responda, mas todos nós sabemos do que os sonhos de Don são feitos.
6ª Temporada: dez 1967 – novembro 1968
Nesta temporada, todos os personagens estão lutando para ajustar-se ao movimento de contracultura em torno deles. A sensação de medo paira sobre tudo com símbolos sutis pressentimento de uma época sombria. Don decepciona tanto em sua vida pessoal quanto sua vida profissional. O período não foi catastrófico apenas para ele. A época também ficou marcada pelos assassinatos do presidente americano Robert Kennedy e do reverendo Martin Luther King Jr.
The Monkees – “Daydream Believer”
Esta canção foi escrita por John Stewart, e fala de sonhos tracejados, um passado brilhante e uma boa dose de “Como eu cheguei aqui e quem sou eu afinal?”.
Richard Harris – “MacArthur Park”
Com mais de sete minutos de duração e com letras obtusas cheias de simbolismo, este improvável hit é um lembrete de que as convenções foram mudando, e as regras foram se quebrando e sendo reescritas, assim como todos nós.
Judy Collins – “Both Sides Now”
Sendo colocado em licença remunerada na agência, Don aproveitou o tempo livre para mostrar a seus filhos suas origens humildes, conduzindo-os a um bairro degradado e parando na frente de uma casa pobre – o bordel onde ele foi criado. Sua perspectiva é sublinhada por Judy Collins com “Both Sides Now”; uma canção de Joni Mitchell, que termina com a linha angustiante “I really don’t know life at all”
7ª Temporada: Parte I: January 1969 – julho 1969
A festa acabou. Os personagens são forçados a lidar com os restos despedaçados de muitas das suas decisões e peneirar para ver o que pode ser corrigido e o que é irreparável.
Bee Gees – I Started a Joke
“… Which started the whole world crying”. Are they talking about the ad industry?
Provavelmente não… Mas eles poderiam muito bem ter sido.
https://www.youtube.com/watch?v=ZHTO_KGFlsQ
Frank Sinatra – ‘My Way’
Sinatra teve um único hit com esta balada em 1969, quando Don e Peggy dançam no escritório.
7ª Temporada: Parte II: Começa em abril de 1970
Os anos 70 chegaram, nos fazendo se despedir de uma era. E não contaremos o final #nospoilers
Let It Be – The Beatles (Abril de 1970)
Curiosidades
Trouxemos também algumas curiosidades publicadas nos site do ig, apaixonados pro séries e batanga sobre o seriado:
– Antes de ser ator, Jon Hamm, o Don Draper, foi garçom em Los Angeles para pagar as contas enquanto tentava emplacar algum papel como ator. Ele não conseguiu nenhum trabalho como ator durante os primeiros três anos em que viveu em Los Angeles.
– A série começou em 2007, mas teve um ano de hiato, em 2011. Motivo: a emissora AMC queria mudar o rumo da série para faturar mais, mas o criador e chefão da série (conhecido nos EUA como showrunner) Matthew Weiner bateu o pé e disse que não ia mudar o rumo da história por conta de audiência ou patrocínios. A série só foi renovada quando Weiner teve a garantia de que seguiria com total liberdade criativa.
– O primeiro papel de destaque de Elisabeth Moss, hoje muito conhecida como a redatora Peggy Olson, foi em “Garota Interrompida”, em que ela interpretou Polly. Então com 17 anos, a moça passou despercebida porque tinha ao seu lado Angelina Jolie, Winona Ryder e Brittany Murphy em papéis de maior destaque.

– O criador da série Matthew Weiner diz que a inspiração para Mad Men e o personagem Don Draper veio da sua própria infelicidade aos 35 anos.
– Cada episódio de Mad Men custa, na média, cerca de US$ 2,8 milhões para ser produzido.
– Mona, a mulher de Roger Sterling, é interpretada pela atriz Talia Balsam, mulher de John Slattery (Roger) na vida real.

– A atriz que interpretou a secretária Mrs. Blankenship é Randee Heller era a mãe de Daniel San em Karatê Kid.
– Sete dos nove roteiristas de Mad Men são mulheres.
– Glen, o garoto de bigodinho que tem um flerte com a filha de Don Draper, Sally, é interpretado pelo filho do showrunner da série, Matthew Weiner. Seu nome é Marten Holden Weiner.
– O personagem Freddy Rumsen é interpretado por Joel Murray, irmão de Bill Murray.
– A produção pagou US$ 250 mil para usar o clássico “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles, em um episódio. Esta foi uma das raras ocasiões em que foi autorizado o uso de uma canção da banda para uma série de TV.
– Mad Men é a primeira série dramática de TV a cabo indicada para concorrer na categoria de “Melhor Drama” no Emmy Awards (principal prêmio da TV dos EUA).
– Muito da temporada 3 gira em torno de uma paródia do comercial “Bye Bye Birdie” (Adeus, passarinho), o apelido com que Don se refere a Betty. No final da temporada, o casal se divorciou.
– Todos os cigarros fumados não são reais: são feitos com ervas. A legislação nos Estados Unidos proíbe o uso deles pelos atores.
– Matthew Weiner, criador da série, baseou o personagem em um verdadeiro publicitário, Draper Daniels, que trabalhou na famosa agência Leo Burnett, em Chicago.
– A atriz Julia Ormond, que interpreta a mãe francesa de Megan Draper é nascida na Inglaterra.
– Uma homenagem: na abertura da série aparece a figura de Don Draper caindo de um edifício,a cena foi baseada no poster do filme Vertigo (Um corpo que cai – 1958) de Alfred Hitchock.
– Arrependimento? Antes do roteiro de Mad Men ser apresentado para o canal AMC, ele foi recusado pela HBO e para a Showtime.
– O ator John Slattery (Roger Sterling) inicialmente foi cotado para representar Don Draper.
– O Presidente dos Estados Unidos Barack Obama enviou uma carta expressando o quanto gosta de Mad Men para Matthew Weiner. Ele enquadrou a carta e colocou em um lugar de destaque em seu escritório.
– Todo começo de temporada Peggy (Elisabeth Moss) repete uma roupa usada na anterior. Ideia da figurinista da série Janie Bryant!
– Mad Men não pagou pela propaganda da Coca Cola. A marca produziu em 1971 uma das propagandas mais famosas da história e Mad Men não precisou pagar para usá-la. Um representante da Coca-Cola confirmou à revista People que não houve “troca de dinheiro” entre a empresa e a AMC, produtora do seriado.
O que aprendemos com isto?
Muito do que vimos em “Mad Men” é sobre a construção de narrativas sobre a vida de Don a partir de Dick Whitman, a publicidade, e como a cultura pop pode ser sufocante.
No entanto, Mad Men vai além. A série é um retrato de uma profunda mudança da sociedade americana entre as décadas de 60 a 70. Você poderia ter sacado essa deixa no fim da primeira temporada com Bob Dylan, que depois foi evoluindo com The Beatles, Sony & Cher, Roy Orbison. Até David Bowie apareceu no trailer da última temporada.
Usando a música como plano de fundo, temos um mar de reflexões sobre quanto os valores, conceitos, preconceitos e atitudes evoluíram desde a época de Mad Men até os dias de hoje.
A cartada de mestre de Matthew Weiner foi abordar com maestria todas as mudanças que a sociedade americana sofreu ao longo de duas décadas a partir de uma agência de propaganda. Por trás de toda trama existe um fundo de reflexão, que neste caso é mostrar como a vida passa por dentro dela e chega a uma página de revista ou em 30 segundos na TV. Aqui o publicitário aparece como intérprete do contexto entre vender o produto de seu cliente e atingir o público alvo.
Deste modo, você não deveria prestar atenção no que acontece na agência, mas sim no que passa pela agência. Mas calma, não se desespere! Ainda dá tempo de fazer isso porque Don, o cara responsável por te distrair por quase todos os episódios nunca fica por lá tempo suficiente sem passar despercebido.
“Advertising is not a very comfortable place for everyone”

Já assistiram ao último episódio de Mad Men? Comente com a gente!